in revista EXAME n.o300 de Abril de 2009; editora IMPRESA Publishing, Lisboa.
“Os 20 anos de Dilbert” texto de Sara Fonseca; pp.232-33.
Dilbert é um personagem criado por Scott Adams. Scott Adams que foi despedido do Crocker National Bank, em São Francisco, por ser apenas mais um funcionário banal a tentar chegar a um cargo de gestão de topo. Desde miúdo que sofre de uma disfunção espasmódica que impede as suas cordas vocais de vibrarem normalmente, o que o leva a treinos de leitura constantes. Tem uma veia criativa de desenho brilhante.
Neste mês de Abril de 2009, o seu personagem – Dilbert – festeja o seu 20.o aniversário. As suas tiras já foram publicadas em dezenas de livros e mais de dois mil jornais em 70 países e granjearam a Scott Adams, o National Cartoonist Society Reuben Award. Presente várias vezes no ranking dos 50 pensadores de Gestão mais influentes do mundo, chegou mesmo ao 12.o lugar em 2005.
Dilbert deve o seu sucesso à empatia que cria com os seus leitores, vivendo uma realidade kafkiana e ilógica, imersa em ignorância e falta de ética, tem a coragem de verbalizar, com grande simplicidade, as verdades corajosas para questões absurdas.
Ao contrário do que seria esperado, as empresas tendem a promover os empregados menos competentes para cargos de gestão na tentativa de minimizarem o potencial dos erros que estes possam cometer.
Se o bónus anual não é para todos, o que fazer durante a análise de desempenho individual? Denegrir a imagem dos colegas.
Qual a melhor política de actuação de um chefe? Explorar os funcionários até ao limite e, quando os seus conhecimentos se tornarem obsoletos, despedi-los.
Se o chefe não sabe o que fazer, o melhor é tomar alguma medida de dispersão que disfarce a sua incompetência.
Da definição de orçamentos desajustada à realidade, à penalização dos empregados pelos erros de gestão, à atribuição de projectos condenados ao falhanço, a políticas de recursos humanos de índole questionável, muito é o que o Dilbert tem para usar.
Quem não conhece um chefe com uma falta de ética constrangedora que usa termos que nem o próprio percebe para disfarçar a sua ignorância.
Quem dirige o departamento de recursos humanos com um prazer sádico em ver os funcionários preocupados com os seus postos de trabalho.
Uma secretária que destila ódio e a quem o chefe faz constantemente questão de relembrar que nunca a promoverá, apesar de ter um MBA.
Um dos engenheiros mais velhos da companhia que detesta o que faz e que tira o máximo proveito de qualquer situação para benefício próprio.
O recém-contratado, tão inteligente quanto ingénuo, que se esforça em vão por fazer o seu trabalho o melhor possível.
Numa entrevista à CNN, Scott Adams disse acreditar que o ambiente empresarial é actualmente mais duro do que há vinte anos.
Resta esperar pelas novas desventuras deste engenheiro solitário que prometem não desiludir.
Muita matéria interessante têm os trabalhadores de todo o mundo para oferecer a Scott Adams!❐
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