Nesta época de vindima e pós-vindima venho partilhar convosco este poema dos anos 1960s que depois foi traduzido por mim.
Port Wine
O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova York e no Rio e em Buenos Aires:
Quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bares.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham-se a cristais cheios de rubis
em Cape Town, em Sidney, em Paris
tem um sabor generoso e fino
e sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas.
Nos entrepostos dos cais em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs
no cais e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe
a tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!
Liberta-te, meu povo! - ou morre.
Poema escrito por Joaquim Namorado in livro A Poesia Necessária (1966)
Port Wine
Douro is a river of wine
that has its mouth in Liverpool, in London,
in New York, in Rio and in Buenos Aires:
when arriving at the ocean it goes in ships,
creating its own mud in old wine casks
ending up in clubs and bars.
Douro is a river of boats
where ferrymen row their misfortunes,
first their lives are sinking in land,
though in the river are sinking the barges.
With exquisite desserts the bottles
are similar to crystals full of rubies
in Cape Town, in Sidney, in Paris
it has got a generous and fine flavour
the blood that we export from the docks in casks.
The borders of Douro are rocky hills
fertilized with the blood and sorrows
where my people dig the vineyards
as if they were opening their own graves.
In warehouses, in store houses,
merchants trade in sterling
the wine which is the blood of my people's bodies
poor coins are for their destinies.
In London, the lords and in Paris the snobs
in Cape and in Rio the rich landowners
find in port wine a divine flavour,
but to us it only tastes, it only tastes
of a destiny of infinite sadness.
Douro river is a river of blood
where flows the blood of my people.
My people, get free, get free!
Get free, my people! - or die.
Traduzido por mim.
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