domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Futuro do Sucesso (VIII)

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= AS MINHAS LEITURAS =
in livro “O Futuro do Sucesso (viver e trabalhar na nova economia)” de Robert B. REICH; 1ª edição portuguesa; vol.22; colecção Actualidades; Lisboa; editora Terramar; original – 2000 e edição portuguesa – 2004; pp.362.
(...)
(pp. 283-338) Nos Estados Unidos, o apoio político à assistência esmoreceu e esta diminuiu.
Os programas de seguro social de base ampla continuam a ser populares junto dos idosos, mas os ricos e os que gozam de boa saúde têm outras intenções. Muitos começam a perceber que conseguem fazer um melhor negócio se se juntarem e deixarem para trás os mais pobres e os mais doentes. É a nova tecnologia que está a revelar mais os nossos riscos.
No caso dos seguros, o mecanismo discriminatório funciona exactamente como nos serviços sociais e na educação. Os norte-americanos gastam dezenas de milhares de milhões de dólares em seguros de saúde e de vida no mercado de seguros privado. Os seguradores perseguem as pessoas que apresentam menores riscos e cobram-lhes prémios cada vez mais baixos. As pessoas com maiores riscos pagam prémios cada vez mais elevados e o fosso entre os preços acentua-se.
Entretanto, os empregadores estão a limitar ou a abandonar as coberturas dos seus empregados menos bem pagos ou que apresentam mais riscos, ainda que aumentem as dos mais bem pagos. A revolução da «assistência médica controlada» está a reduzir os cuidados de saúde dos pobres que não têm seguro.
É cada vez mais feroz a concorrência no sentido de reduzir custos o que deixa os hospitais dos centros urbanos sem reservas. Esta nova concorrência está a levar os hospitais a lutar pelos doentes de baixo risco com cobertura ampla e a fugir dos toxicodependentes e dos traumatizados que não têm seguro. Actualmente, os mais ricos e os mais saudáveis estão muito mais bem informados, muitos preferem contas de poupança-saúde individuais o que lhes permite fazer um melhor negócio em vez de subsidiarem os doentes crónicos.
Os líderes das empresas, universidades, museus, hospitais e outras instituições pretendem criar círculos virtuosos em que o dinheiro e o talento se juntem a outro dinheiro e talento para colherem os benefícios do prestígio do grupo, a sua capacidade inovadora, os ensinamentos daí decorrentes, a qualidade dos serviços acessível aos seus membros ou os baixos custos e riscos de pertencer a esse grupo.
Os executivos do sector privado já não tomam grandes decisões estratégicas. Passam o seu tempo a sossegar os analistas financeiros, os especuladores e os investidores institucionais quanto ao futuro risonho da empresa e a convencer os indivíduos de valor a vir ou a ficar, aliciando-os com opções de compra de acções e projectos interessantes.
Os líderes das instituições sem fins lucrativos não se poupam a esforços para atrair dinheiro e talentos. «Actualmente, para gerir uma instituição temos de ser oportunistas. Temos de recorrer a todas as situações sociais para pensar na criação de fundos e nos contactos sociais.» - afirma Marcia Tucker, ex-directora do Novo Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque.
Os grandes reitores visionários que no passado contribuíram para alterar a mentalidade dos norte-americanos quanto a assuntos importantes foram substituídos, na sua maior parte, por uma geração de líderes cuja atenção se concentra em obter donativos de vulto.
Os governantes e os presidentes de câmara acotovelam-se para manter ou para conservar dentro dos seus limites territoriais os residentes mais habilitados e abastados dos quais dependem os círculos virtuosos de crescimento e que atrairão outros como eles e, consequentemente, capital global. A mobilidade destes indivíduos corresponde ao seu nível de educação. Não só as pessoas com mais alto nível de escolaridade têm um maior leque de opções de emprego em vários locais do que outras e muito mais conhecimentos que podem vender os seus serviços no ciberespaço a partir de quase todos os locais.
Como atrair e manter os trabalhadores mais criativos e com um maior nível de instrução? Baixando-lhes os impostos, proporcionando-lhes locais mais seguros e atraentes para viver e trabalhar e concedendo-lhes acesso fácil a aeroportos e estâncias de férias, museus e recintos desportivos.
Esta solicitação explica em parte por que motivo é que o fardo dos impostos estaduais e locais está a transferir-se lentamente daqueles que ganham mais e têm maior mobilidade para os que ganham menos e têm menos opções quanto ao local de residência. Os impostos sobre o rendimento estão a ser substituídos pelos impostos sobre as vendas, o gás, os cigarros e a lotaria que incidem mais sobre o rendimento das pessoas com salários mais baixos.
Isto também explica, em parte, o facto de o Estado norte-americano ter reduzido o apoio ao ensino superior. Dada a relação entre o ensino e a mobilidade geográfica, se um Estado ajudar um dos seus jovens a concluir uma licenciatura em vez de este se ficar pelo ensino secundário, aumenta para o dobro a probabilidade de perder esse trabalhador a favor de outro Estado. Por exemplo, actualmente, o Nebrasca paga as propinas só aos estudantes que se comprometam a trabalhar nesse Estado durante pelo menos três anos após a conclusão da licenciatura.
Os governadores e os presidentes de câmara também têm de convencer as empresas a vir e a ficar. Deste modo, a luta para que as empresas lá se instalem é cada vez maior e as cidades competem para atraí-las ou mantê-las, concedendo-lhes subsídios generosos ou reduções fiscais. Em todo o mundo se regista uma descida acentuada dos impostos sobre as empresas.
As reduções de impostos e os subsídios oferecidos às empresas conseguem-se à custa de serviços públicos necessários aos residentes mais carenciados dessas áreas como boas escolas, por exemplo. Os responsáveis locais chegam a trocar escolas por recintos desportivos. As lutas pelos estádios estão a aquecer em detrimento de escolas nas zonas mais pobres. Porque motivo é que os líderes políticos fazem estas negociatas? Porque as equipas desportivas sairão da cidade se não conseguirem novos estádios, mas as crianças pobres da cidade não irão para parte nenhuma.
Em 1998, os dirigentes iranianos ofereciam a cientistas soviéticos que tinham trabalhado em laboratórios ligados à guerra biológica um salário de 5000 dólares por mês, mais do que estes cientistas ganham por ano na Rússia. Por outro lado, o Canadá está a perder gestores, médicos, enfermeiros, cientistas e outros profissionais, em parte porque o fisco lhes arrebata metade dos seus rendimentos.
Os Chefes de Estado também solicitam os investidores globais. Antigamente, a diplomacia ocupava-se de tratados, alianças e delicados equilíbrios de poder e as reuniões mais importantes realizavam-se entre Chefes de Estado. Actualmente, dedicam-se a atrair investimentos e a evitar fugas de capitais e as reuniões mais importantes envolvem não só os Chefes de Estado, mas também banqueiros mundiais e gestores de fundos. Os presidentes e os primeiros-ministros tentam atrair e manter os investidores globais, prometendo o que podem em troca do capital global. Eles bajulam e insinuam-se junto daqueles que dirigem os fluxos de dinheiro. Quase todos se apressam a reduzir os impostos das empresas. Se necessário, criam défices orçamentais – incluindo as contribuições públicas para a segurança social, a assistência médica e o ensino – para ganhar a confiança dos investidores.
Assim, o fardo de pagar aquilo de que a população menos afortunada de todas as sociedades precisa, está a recair mais sobre estes. É a consequência final do mecanismo de discriminação.
As pessoas com maior poder negocial, que conseguem os melhores negócios para as escolas, universidades, cuidados infantis, assistência médica, seguros, impostos e retorno sobre os investimentos já são as que vivem melhor. É provável que sejam cultas ou tenham pais cultos, sejam saudáveis, ricas e que tenham segurança económica.
As que têm menor poder negocial – as que mais sentem os efeitos negativos das mudanças económicas – têm de contentar-se com as piores escolas, com um acesso restrito ou inexistente às universidades, com cuidados infantis mínimos ou inexistentes, com assistência médica insuficiente ou inexistente e não dispõem de seguros que as protejam das errâncias do mercado. E à medida que se vão isolando em termos sociais também perdem contacto com uma vasta parcela da economia que depende ainda mais de conhecimentos pessoais. O poder negocial de todas as pessoas que se encontram entre estes extremos também é inversamente proporcional às suas necessidades.
Este sistema é o produto de um grande número de decisões avulsas tomadas por indivíduos que procuram o melhor para si próprios e para os seus entes queridos. Contudo, muitos dos que vivem melhor contribuem para um sem-número de causas meritórias, mas a própria discriminação pode contribuir para reduzir a sua informação acerca do modo como vivem aqueles que têm menos do que eles.
O mecanismo da discriminação aumenta ainda mais a pressão para ganhar o melhor salário possível. Os altos rendimentos compram o ingresso de nós próprios e das nossas famílias em sociedades excelentes.
Este não é o fim da história. Não somos escravos das tendências actuais nem prisioneiros do mecanismo de discriminação.
Uma maneira de alcançar um melhor equilíbrio social poderia ser um grande e novo despertar moral e espiritual, no qual as pessoas renunciassem em massa aos excessos do individualismo aquisitivo. Uma sociedade equilibrada deveria procurar atingir vários objectivos:
proteger as pessoas de choques económicos súbitos. O seguro do desemprego poderia ser substituído por um seguro de salário, destinado a suavizar as reduções abruptas do rendimento. Se os ganhos sofressem uma redução de 50% de um ano para o outro, o seguro salarial cobriria a diferença e se os ganhos duplicassem de um ano para o outro, pagar-se-ia uma percentagem dos ganhos que reverteria para o fundo de seguro.
Alargar o círculo de prosperidade. Aperfeiçoar a reserva de capital humano, tornando os activos líquidos mais acessíveis, isto é, conceder aos jovens, ao completarem dezoito anos, uma almofada financeira de 60 000 dólares, por exemplo, que eles poderiam investir na sua educação, na constituição de uma empresa, em acções e obrigações, ... estas dotações seriam financiadas por um pequeno imposto sobre a riqueza aplicável aos muito ricos.
Prestar cuidados e atenção aos mais necessitados. A sociedade, em geral, poderia pagar aos prestadores destes serviços substancialmente mais para que tenham um melhor estatuto social e mais respeito que tornariam estas profissões mais atraentes para as pessoas vocacionadas para elas e dar-lhes-iam mais motivos para adquirir a formação específica que estes serviços exigem. As empresas deveriam ser encorajadas/obrigadas a proporcionar horários flexíveis aos pais e a pagar períodos de licença destinados a tomar conta de uma criança pequena ou de um parente idoso em situação de necessidade.
Inverter o mecanismo de discriminação. Os vouchers escolares poderiam melhorar a qualidade das escolas e deveriam ser proporcionais às necessidades familiares. Também dar vouchers de apoio à habitação às famílias que precisassem para todos viverem em comunidades adequadas.❐
mailto:eu.maria.figueiras@gmail.com

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