segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Condelipa

Lagos, 28 de Março de 2007
Há quem diga que o conde de Lippe era um militar inglês a quem o marquês de Pombal atribuiu o cargo de comandante-em-chefe do exército português. Então, numa passagem por Lagos, tornou-se grande apreciador das conquilhas que lhe eram trazidas diariamente pelos seus soldados que as acabaram por baptizar com o seu nome.
A mim, isto parece-me uma estória forjada por algum letrado, para que pareça bonita e elegante, como era costume na época e posteriormente.
Mas, podemos pensar, raciocinar e discernir:
1º – “Lippe” só se lê lipa na língua germânica. Lip lê-se em inglês, francês, português;
2º – a outra designação que temos para condelipas é conquilhas, que é como se diz em francês;
3º – os franceses eram grandes apreciadores de bivalves, principalmente por causa das suas colónias ou porque tenham vivido nelas como é o caso dos militares por conta de França nos séculos XVIII-XIX. Não se pode dizer o mesmo dos ingleses;
4º – Se as condelipas fossem conhecidas dos algarvios antes, teriam nome português como é normal;
5º – Lagos, na altura do marquês de Pombal, não tinha grande importância militar; por isso a defesa da cidade era insignificante e de 1750 a 1777, período em que o Marquês do Pombal esteve no poder, não aconteceram nem guerras civis nem ocupações estrangeiras que justificassem numa cidade insignificante a presença de um militar estrangeiro de craveira. Além disso, pelos documentos da época deduz-se que o Marquês do Pombal não aceitava de bom grado outro poder que não fosse o seu, usando apenas aqueles da sua máxima confiança. Um oficial inglês de craveira não se encaixaria nos seus requisitos;
6º – Lagos e o Algarve foram ocupados de 1807 a 1808, pelas tropas de Napoleão como território de fronteira, (PAULA, 1992, p.176, p.366) como continuação da sua ocupação em Espanha e toda a Europa, para defender/atacar a costa algarvia da marinha dos aliados ingleses que ajudavam os portugueses a combater os exércitos de Bonaparte na campanha deste por toda a Europa para implantar grupos maçónicos na preparação de uma Europa republicana;
7º – os exércitos de Napoleão tinham muitos militares de outras nacionalidades, adeptos fervorosos da revolução francesa;
8º - se o militar fosse inglês seria “Count of Lippe” que os algarvios nunca perceberiam como condelipa; mas se fosse francês, embora de ascendência germânica seria “Comte de Lippe”, que os algarvios perceberiam como condelipa;
9º – os militares só comem comida feita por pessoas da sua confiança que os acompanhavam e também nunca pediriam pratos regionais e portanto essa palavra nunca passaria para o povo. Condelipa é uma palavra da língua popular; as classes de maior estatuto social sempre disseram conquilha;
10º – o facto de os algarvios perpetuarem na memória algo relacionado com os militares franceses, não deve ter sido de bom tom para o período pós-invasões francesas. Assim, aldrabou-se como se diz na língua popular.
Esta é a minha tese. ❐
BIBLIOGRAFIA
PAULA, Rui M.; Lagos – evolução urbana e património; edição de Câmara Municipal de Lagos; Lagos, Outubro de 1992.

3 comentários:

  1. o Conde de Lippe era alemao. "Graf von Lippe". Graf=Conde
    E como nós algarvios somos preguicosos nao dizemos Conde de Lippe mas sim Conde'Lippe=Condelipa :D

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    1. Muito bem observado.
      «Frederico Guilherme Ernesto de Eschaumburgo-Lipa (em alemão: Friedrich Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe; Londres, 9 de janeiro de 1724 — Wölpinghausen, 10 de setembro de 1777) e conhecido em Portugal como Conde de Lipa (em virtude de ser conde reinante de Eschaumburgo-Lipa), foi um notável militar e político alemão que esteve ao serviço do Exército Português, que reorganizou profundamente e comandou durante a Guerra Fantástica.» (Fonte: Wikipedia)
      Foi este Homem que pôs alguma ordem no caótico Exército Português da altura. Ainda hoje, o Regimento de Infantaria n.º 1 tem o seu nome: "Regimento de Infantaria do Conde de Lipa".

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