10 de Fevereiro de 2003
As línguas, nos primórdios, eram apenas orais. Não havia dicionários e aquando das invasões, os invasores não queriam saber da língua nativa daquele território para nada. Os vencidos que se preocupassem em tentar percebê-los e se não eram capazes disso, mais uma cabeça menos uma cabeça pouca diferença faria. Assim a mesma palavra em lugares diferentes tem significados diferentes de acordo como essa palavra era entendida foneticamente e como era apreendido o seu significado pelos receptores. Quanto à construção das frases então nem falar. Era a mais completa anarquia.
Por exemplo no latim nunc significa em português agora, mas temos a palavra em português nunca e podemos perceber a semelhança oral. Se quisermos pôr a nossa imaginação a funcionar podemos imaginar um soldado romano a ordenar a um nativo ibérico: nunc, nunc. O nativo olha para o soldado, olha para onde ele apontava e pensando perceber que é para fazer, toca-lhe com o pé para sentir o que é. O soldado, pensando que ele não percebeu nada, volta a gritar-lhe: - nunc, nunc.
Como o nativo recua, o soldado afasta-se gritando: - bestiá. O nativo sai dali a caminho de casa e encontra outros nativos que lhe perguntam:
- Então, que tal o romano?
- Não é má pessoa. Grita muito, mas isso deve ser da raça. Olha, já aprendi com ele duas palavras: nunca e bestial.
Duas palavras que os amigos agora já conhecem e vão passar a usar para ensinar aos outros.
Com a introdução da escrita, a língua de uma determinada região passou a ser analisada por curiosos que ensinavam a sua língua na corte e, pela necessidade, foram-se criando cadernos de palavras sinónimas nas duas línguas e, a pouco e pouco, chegou-se aos dicionários.
Também pela necessidade foi-se estruturando a língua de maneira a que fosse possível criar regras para que o estrangeiro a pudesse falar, expressar-se e ser compreendido, pois já não se tratava de uma relação de vencedores e vencidos.
Quando actualmente se foge à norma porque não a conhecemos e, não querendo fazer figura de ignorantes, afirmamos que assim é que é; estamos a demonstrar exactamente isso que se pretende esconder.
As normas são importantes para que as crianças aprendam a se saber exprimir na sua língua e a serem compreendidas e, por outro lado, as normas são necessárias para os estrangeiros aprenderem a nossa língua e cada um se possa fazer entender nesta aldeia global sem perder a sua cultura e a sua maneira de estar no mundo e a língua materna é esse veiculo.❐
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