sexta-feira, 27 de maio de 2011

Poesia de António Aleixo

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Venho partilhar convosco alguma poesia de António Aleixo. Acredito que tinha a Lei de Deus gravada no seu coração. Ainda hoje as suas verdades são tão verdade!


Poesia de António Aleixo

Jesus disse que se amassem
Aos cristãos que se proclamam
Não disse que se matassem
E eles matam-se e não se amam.

Nada peças de joelhos
A Jesus, não vás mentir;
Quem segue os Seus conselhos
Tem tudo sem Lhe pedir.


Deus disse: - Faz todo o bem
Neste mundo e, se puderes,
Acode a toda a desgraça
E não faças a ninguém

Aquilo que tu não queres
Que, por mal, alguém te faça.
Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem
E a caridade o imploram.
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram.

E o mundo só pode ser
Menos mau, menos atroz,
Se conseguirmos fazer
Mais p’los outros que por nós.

Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou,
São os vendilhões do templo
Que do templo Ele expulsou.

Não mais vem como desejo,
Um mundo novo, perfeito,
Só fechando os olhos, vejo
Tal desejo satisfeito ...

Ele há gente tão mesquinha,
De tão baixa condição ...
Censuram a vida minha
Por não ser como eles são!

Engraxadores sem caixa
há-os aos centos na cidade
que só usam da tal graxa
que envenena a sociedade.

Que esperança será aquela
Que sinto desde criança,
Que ainda dou restos dela
Aos que já não têm esperança?!

Digo sempre que estou bem
- Quanto mais sofro, mais canto -
P’ra quê chorar?... se ninguém
Me quer enxugar o meu pranto!

Acho uma moral ruim
Trazer o vulgo enganado;
Mandarem fazer assim
E eles fazerem assado.

Não me dêem mais desgostos
Porque sei raciocinar ...
Só os burros estão dispostos
A sofrer sem protestar!

Traz cinismo, meu rapaz,
E no mundo serás gente ...
Porque àquele que o não traz,
Comem-no ... cinicamente.

Faz-te lobo traiçoeiro,
Inteligente e astuto ...
Se dás a ver que és cordeiro,
Não vives mais um minuto.

Se julgas pela aparência
E achas isso natural,
Terás de ter paciência,
Se alguém de ti julgar mal.

Abusas do teu poder,
Puseste-me uma mordaça
P’ra eu não poder dizer
Quem fez a minha desgraça.

Porque a mentira te agrade
Não me deves obrigar
A ocultar a verdade
E a mentir p’ra te agradar.

E quem segue os teus conselhos,
Vive, pedindo favores,
Toda a vida de joelhos,
Aos pés dos seus agressores.

P’ra veres o que merecias
Quando me fazes mal,
Pensa só no que farias
A quem te fizesse tal.

Se gostas de bem fazer
Com qualquer interesse em vista,
Não és quem pretendes ser
És simplesmente egoísta.

Esse que tira o chapéu,
Ao pedir-te, bem percebe
Que te está vendendo o céu
Pelo tostão que recebe.

Pede esmola humildemente,
Digamos, mas a verdade,
É aquilo que ele sente
Que nada tem de humildade.

Ambos se estão enganando,
Quem os estude, verá;
É um fingido, aceitando
O que outro fingido dá.

É menos parvo, a meu ver,
O que o é, sem que se veja,
Do que aquele que, sem o ser,
Se faz parvo, sem que o seja.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que, às vezes, fico pensando
Que a burrice é uma ciência!

Num mundo de imperfeições
Aos tortos, chamam direitos
E os poucos que são perfeitos
São tidos por aleijões ...

O povo – por ser criança –
Quer vingança porque ignora
Que a sua vida piora
Quanto mais queira vingança.

Tu ainda não reparaste
Que o bom, num perfeito grau,
Sem ter o mau por contraste,
Não seria bom nem mau?!

O que era a noite sem o dia?...
E a luz sem a escuridão?...
O contraste é a razão
Porque a gente se avalia!

in Este livro que vos deixo escrito por António Aleixo, Vol II, 1ª edição, Notícias Editorial, 1978, Lisboa.

mailto:eu.maria.figueiras@gmail.com

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