domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Futuro do Sucesso (VIII)

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= AS MINHAS LEITURAS =
in livro “O Futuro do Sucesso (viver e trabalhar na nova economia)” de Robert B. REICH; 1ª edição portuguesa; vol.22; colecção Actualidades; Lisboa; editora Terramar; original – 2000 e edição portuguesa – 2004; pp.362.
(...)
(pp. 283-338) Nos Estados Unidos, o apoio político à assistência esmoreceu e esta diminuiu.
Os programas de seguro social de base ampla continuam a ser populares junto dos idosos, mas os ricos e os que gozam de boa saúde têm outras intenções. Muitos começam a perceber que conseguem fazer um melhor negócio se se juntarem e deixarem para trás os mais pobres e os mais doentes. É a nova tecnologia que está a revelar mais os nossos riscos.
No caso dos seguros, o mecanismo discriminatório funciona exactamente como nos serviços sociais e na educação. Os norte-americanos gastam dezenas de milhares de milhões de dólares em seguros de saúde e de vida no mercado de seguros privado. Os seguradores perseguem as pessoas que apresentam menores riscos e cobram-lhes prémios cada vez mais baixos. As pessoas com maiores riscos pagam prémios cada vez mais elevados e o fosso entre os preços acentua-se.
Entretanto, os empregadores estão a limitar ou a abandonar as coberturas dos seus empregados menos bem pagos ou que apresentam mais riscos, ainda que aumentem as dos mais bem pagos. A revolução da «assistência médica controlada» está a reduzir os cuidados de saúde dos pobres que não têm seguro.
É cada vez mais feroz a concorrência no sentido de reduzir custos o que deixa os hospitais dos centros urbanos sem reservas. Esta nova concorrência está a levar os hospitais a lutar pelos doentes de baixo risco com cobertura ampla e a fugir dos toxicodependentes e dos traumatizados que não têm seguro. Actualmente, os mais ricos e os mais saudáveis estão muito mais bem informados, muitos preferem contas de poupança-saúde individuais o que lhes permite fazer um melhor negócio em vez de subsidiarem os doentes crónicos.
Os líderes das empresas, universidades, museus, hospitais e outras instituições pretendem criar círculos virtuosos em que o dinheiro e o talento se juntem a outro dinheiro e talento para colherem os benefícios do prestígio do grupo, a sua capacidade inovadora, os ensinamentos daí decorrentes, a qualidade dos serviços acessível aos seus membros ou os baixos custos e riscos de pertencer a esse grupo.
Os executivos do sector privado já não tomam grandes decisões estratégicas. Passam o seu tempo a sossegar os analistas financeiros, os especuladores e os investidores institucionais quanto ao futuro risonho da empresa e a convencer os indivíduos de valor a vir ou a ficar, aliciando-os com opções de compra de acções e projectos interessantes.
Os líderes das instituições sem fins lucrativos não se poupam a esforços para atrair dinheiro e talentos. «Actualmente, para gerir uma instituição temos de ser oportunistas. Temos de recorrer a todas as situações sociais para pensar na criação de fundos e nos contactos sociais.» - afirma Marcia Tucker, ex-directora do Novo Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque.
Os grandes reitores visionários que no passado contribuíram para alterar a mentalidade dos norte-americanos quanto a assuntos importantes foram substituídos, na sua maior parte, por uma geração de líderes cuja atenção se concentra em obter donativos de vulto.
Os governantes e os presidentes de câmara acotovelam-se para manter ou para conservar dentro dos seus limites territoriais os residentes mais habilitados e abastados dos quais dependem os círculos virtuosos de crescimento e que atrairão outros como eles e, consequentemente, capital global. A mobilidade destes indivíduos corresponde ao seu nível de educação. Não só as pessoas com mais alto nível de escolaridade têm um maior leque de opções de emprego em vários locais do que outras e muito mais conhecimentos que podem vender os seus serviços no ciberespaço a partir de quase todos os locais.
Como atrair e manter os trabalhadores mais criativos e com um maior nível de instrução? Baixando-lhes os impostos, proporcionando-lhes locais mais seguros e atraentes para viver e trabalhar e concedendo-lhes acesso fácil a aeroportos e estâncias de férias, museus e recintos desportivos.
Esta solicitação explica em parte por que motivo é que o fardo dos impostos estaduais e locais está a transferir-se lentamente daqueles que ganham mais e têm maior mobilidade para os que ganham menos e têm menos opções quanto ao local de residência. Os impostos sobre o rendimento estão a ser substituídos pelos impostos sobre as vendas, o gás, os cigarros e a lotaria que incidem mais sobre o rendimento das pessoas com salários mais baixos.
Isto também explica, em parte, o facto de o Estado norte-americano ter reduzido o apoio ao ensino superior. Dada a relação entre o ensino e a mobilidade geográfica, se um Estado ajudar um dos seus jovens a concluir uma licenciatura em vez de este se ficar pelo ensino secundário, aumenta para o dobro a probabilidade de perder esse trabalhador a favor de outro Estado. Por exemplo, actualmente, o Nebrasca paga as propinas só aos estudantes que se comprometam a trabalhar nesse Estado durante pelo menos três anos após a conclusão da licenciatura.
Os governadores e os presidentes de câmara também têm de convencer as empresas a vir e a ficar. Deste modo, a luta para que as empresas lá se instalem é cada vez maior e as cidades competem para atraí-las ou mantê-las, concedendo-lhes subsídios generosos ou reduções fiscais. Em todo o mundo se regista uma descida acentuada dos impostos sobre as empresas.
As reduções de impostos e os subsídios oferecidos às empresas conseguem-se à custa de serviços públicos necessários aos residentes mais carenciados dessas áreas como boas escolas, por exemplo. Os responsáveis locais chegam a trocar escolas por recintos desportivos. As lutas pelos estádios estão a aquecer em detrimento de escolas nas zonas mais pobres. Porque motivo é que os líderes políticos fazem estas negociatas? Porque as equipas desportivas sairão da cidade se não conseguirem novos estádios, mas as crianças pobres da cidade não irão para parte nenhuma.
Em 1998, os dirigentes iranianos ofereciam a cientistas soviéticos que tinham trabalhado em laboratórios ligados à guerra biológica um salário de 5000 dólares por mês, mais do que estes cientistas ganham por ano na Rússia. Por outro lado, o Canadá está a perder gestores, médicos, enfermeiros, cientistas e outros profissionais, em parte porque o fisco lhes arrebata metade dos seus rendimentos.
Os Chefes de Estado também solicitam os investidores globais. Antigamente, a diplomacia ocupava-se de tratados, alianças e delicados equilíbrios de poder e as reuniões mais importantes realizavam-se entre Chefes de Estado. Actualmente, dedicam-se a atrair investimentos e a evitar fugas de capitais e as reuniões mais importantes envolvem não só os Chefes de Estado, mas também banqueiros mundiais e gestores de fundos. Os presidentes e os primeiros-ministros tentam atrair e manter os investidores globais, prometendo o que podem em troca do capital global. Eles bajulam e insinuam-se junto daqueles que dirigem os fluxos de dinheiro. Quase todos se apressam a reduzir os impostos das empresas. Se necessário, criam défices orçamentais – incluindo as contribuições públicas para a segurança social, a assistência médica e o ensino – para ganhar a confiança dos investidores.
Assim, o fardo de pagar aquilo de que a população menos afortunada de todas as sociedades precisa, está a recair mais sobre estes. É a consequência final do mecanismo de discriminação.
As pessoas com maior poder negocial, que conseguem os melhores negócios para as escolas, universidades, cuidados infantis, assistência médica, seguros, impostos e retorno sobre os investimentos já são as que vivem melhor. É provável que sejam cultas ou tenham pais cultos, sejam saudáveis, ricas e que tenham segurança económica.
As que têm menor poder negocial – as que mais sentem os efeitos negativos das mudanças económicas – têm de contentar-se com as piores escolas, com um acesso restrito ou inexistente às universidades, com cuidados infantis mínimos ou inexistentes, com assistência médica insuficiente ou inexistente e não dispõem de seguros que as protejam das errâncias do mercado. E à medida que se vão isolando em termos sociais também perdem contacto com uma vasta parcela da economia que depende ainda mais de conhecimentos pessoais. O poder negocial de todas as pessoas que se encontram entre estes extremos também é inversamente proporcional às suas necessidades.
Este sistema é o produto de um grande número de decisões avulsas tomadas por indivíduos que procuram o melhor para si próprios e para os seus entes queridos. Contudo, muitos dos que vivem melhor contribuem para um sem-número de causas meritórias, mas a própria discriminação pode contribuir para reduzir a sua informação acerca do modo como vivem aqueles que têm menos do que eles.
O mecanismo da discriminação aumenta ainda mais a pressão para ganhar o melhor salário possível. Os altos rendimentos compram o ingresso de nós próprios e das nossas famílias em sociedades excelentes.
Este não é o fim da história. Não somos escravos das tendências actuais nem prisioneiros do mecanismo de discriminação.
Uma maneira de alcançar um melhor equilíbrio social poderia ser um grande e novo despertar moral e espiritual, no qual as pessoas renunciassem em massa aos excessos do individualismo aquisitivo. Uma sociedade equilibrada deveria procurar atingir vários objectivos:
proteger as pessoas de choques económicos súbitos. O seguro do desemprego poderia ser substituído por um seguro de salário, destinado a suavizar as reduções abruptas do rendimento. Se os ganhos sofressem uma redução de 50% de um ano para o outro, o seguro salarial cobriria a diferença e se os ganhos duplicassem de um ano para o outro, pagar-se-ia uma percentagem dos ganhos que reverteria para o fundo de seguro.
Alargar o círculo de prosperidade. Aperfeiçoar a reserva de capital humano, tornando os activos líquidos mais acessíveis, isto é, conceder aos jovens, ao completarem dezoito anos, uma almofada financeira de 60 000 dólares, por exemplo, que eles poderiam investir na sua educação, na constituição de uma empresa, em acções e obrigações, ... estas dotações seriam financiadas por um pequeno imposto sobre a riqueza aplicável aos muito ricos.
Prestar cuidados e atenção aos mais necessitados. A sociedade, em geral, poderia pagar aos prestadores destes serviços substancialmente mais para que tenham um melhor estatuto social e mais respeito que tornariam estas profissões mais atraentes para as pessoas vocacionadas para elas e dar-lhes-iam mais motivos para adquirir a formação específica que estes serviços exigem. As empresas deveriam ser encorajadas/obrigadas a proporcionar horários flexíveis aos pais e a pagar períodos de licença destinados a tomar conta de uma criança pequena ou de um parente idoso em situação de necessidade.
Inverter o mecanismo de discriminação. Os vouchers escolares poderiam melhorar a qualidade das escolas e deveriam ser proporcionais às necessidades familiares. Também dar vouchers de apoio à habitação às famílias que precisassem para todos viverem em comunidades adequadas.❐
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Futuro do Sucesso (VII)

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Lagos no coração
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in livro “O Futuro do Sucesso (viver e trabalhar na nova economia)” de Robert B. REICH; 1ª edição portuguesa; vol.22; colecção Actualidades; Lisboa; editora Terramar; original – 2000 e edição portuguesa – 2004; pp.362.
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(pp.255-281) O motivo pelo qual as companhias aéreas prodigalizam mais atenção aos passageiros de elite que viajam em classe executiva como Michelle e menos aos outros como Jennifer é simples e de natureza económica. É o mesmo pelo qual a Merril Lynch quer que os seus corretores desviem a sua atenção para os grandes apostadores. É porque daí vêm as grandes receitas. Em 1999, os passageiros de avião que viajavam em classe executiva representavam apenas 9% do total, mas contribuíam para 44% das receitas da aviação comercial. Por isso, quando as companhias de aviação lutam por oferecer melhores negócios a passageiros como Jennifer; elas estão, ao mesmo tempo, a cortejar pessoas como Michelle que estão dispostas a pagar muito pela atenção pessoal.
Contudo, não é provável que Michelle tenha pagado do seu bolso a viagem de luxo. Tratava-se de uma viagem de negócios. Michelle fez a viagem por motivos profissionais e não por deleite e esta viagem de luxo foi também um custo para a empresa. Concede-se atenção pessoal com requinte às pessoas que dão muito dinheiro a ganhar à empresa e que simultaneamente o ganham.
Quando se paga várias centenas de dólares por mês a um conselheiro pessoal, pretende-se alguém que se interesse exclusivamente pelo seu bem-estar, um amigo que esteja ali à sua disposição, talvez porque os amigos andam muito ocupados.
O facto de estes amigos terem outra motivação além da amizade não arrefece o entusiasmo das pessoas que os procuram. Desde o princípio dos anos 90 que o número de conselheiros pessoais tem duplicado todos os anos, segundo Thomas Leonard, fundador da Coach University. Valerie Olson, de Minnesota, chega a ganhar um número com seis dígitos por ano como conselheira pessoal de trinta clientes, cada um dos quais lhe paga 250 dólares por mês por quatro sessões de meia hora. Escuta-os, cria empatia e dedica-lhes uma atenção total. Além dos conselheiros pessoais, tem aumentado o número de instrutores pessoais, guias espirituais, conselheiros espirituais e terapeutas.
Actualmente, o Governo dos Estados Unidos paga dois terços dos cuidados de saúde prestados a 1,6 milhões de residentes, principalmente com o Medicaid em lares, mas contribui muito pouco para os cuidados prestados aos idosos quer em casa quer nos centros de dia locais, o que permitiria que eles estivessem mais perto dos amigos e da família. Mesmo quando o seguro estatal paga os cuidados prestados em casa, não paga a atenção.
O custo dos cuidados infantis organizados oscila entre 4000 e 20 000 dólares anuais, por criança, mas o estrato inferior tem menos pessoal por criança, apesar de um ambiente seguro. Logo, as educadoras e o pessoal auxiliar têm menos formação e mudam de emprego com mais frequência porque são menos bem pagas e trabalham mais. Então estas crianças têm menos oportunidades de criar relações com o pessoal do que as crianças do estrato superior. Estas diferenças de quantidade, qualidade e consistência dos cuidados infantis podem ter consequências significativas mais tarde.
Em 1972, foi iniciado um estudo que abrangeu crianças-bebés de 111 famílias negras pobres da Carolina do Norte. Cinquenta e sete, escolhidas aleatoriamente, foram afectadas a programas de cuidados infantis a tempo inteiro até aos cinco anos de idade. Os cuidados infantis incluíam uma grande dose de atenção pessoal o que permitia que as educadoras criassem relações pessoais com as crianças – uma educadora para três crianças e uma para sete crianças de quatro anos. As educadoras tinham a mesma formação dos professores do ensino público; poucas foram as que se despediram ou foram substituídas durante esse período e proporcionaram uma grande dose de estimulação intelectual e apoio emocional.
As outras cinquenta e quatro crianças receberam suplementos alimentares e visitas de assistentes sociais para garantir a sua saúde e segurança, mas não foram alvo de atenção pessoal.
Quando chegaram aos cinco anos, estes dois grupos de crianças frequentaram infantários, escolas primárias e liceus comparáveis. O estudo acompanhou-as até aos vinte e um anos de idade. Verificou-se que, aos vinte e um anos, cerca de dois terços das crianças que tinham recebido cuidados ricos em atenção frequentavam a universidade ou tinham empregos bem pagos, contra 40% das crianças do outro grupo. O primeiro grupo tinha custado 11 000 dólares por ano por criança ao Estado. Pode-se concluir que valeu a pena o investimento.
A verdade é que muitos lares fazem parte de grandes empresas que visam o lucro e os cuidados infantis também começam a ser um grande negócio. As empresas têm de garantir aos accionistas um bom retorno dos seus investimentos, possivelmente à custa de investirem na qualidade da atenção. Alguns pais, quando estão no emprego, recorrem actualmente a inovações proporcionadas por alguns infantários: pequenas câmaras montadas no tecto e nas paredes dos infantários permitem que os pais abram, com um simples clique, uma pequena janela num canto do ecrã do seu computador e, através da web, vigiem os seus bebés durante o dia.
Porém, a maioria das pessoas que vendem atenção pessoal não ganha muito dinheiro com isso porque é um serviço prestado individualmente e implica ceder tempo. A maioria destes trabalhadores são mulheres, imigrantes que aceitam mais do que um emprego ou trabalham mais horas porque precisam de dinheiro e este trabalho não é valorizado pela sociedade. Nos Estados Unidos, mais de dois milhões de pessoas trabalham em lares como auxiliares de enfermagem, ajudantes de cozinha e governantas. Na próxima década, um em cada cinco novos empregos será na área da saúde e a maioria envolverá prestação da atenção pessoal.
Cada vez mais, as dezenas de milhões de pessoas que vendem atenção pessoal, não ganham o suficiente para pagar os serviços que elas próprias vendem. Por isso, optam por viagens baratas, pela comida feita, pelas idas ao médico só quando é absolutamente necessário (muitas não têm dinheiro para pagar seguros de saúde) e pelo tratamento das crianças e idosos por conta de parentes e amigos.
A economia emergente não está a fazer-nos recuar: o bem-estar da maioria das pessoas está a aumentar; a Jennifer nunca poderia comprar um bilhete de avião há vinte anos. Mais pessoas têm acesso à internet, ..., mas a atenção pessoal está cada vez mais dirigida para os que podem pagá-la e mais escassa para os que não podem. Na nova economia, as pessoas são induzidas a trabalharem mais tempo e mais intensamente e a venderem-se com uma premência cada vez maior. Há menos espaço para as famílias que estão a ser reduzidas e subcontratadas.
Dado o leque de opções e a facilidade de mudar, inserimo-nos em comunidades de pessoas mais ou menos com os mesmos rendimentos, as mesmas capacidades, os mesmos riscos e as mesmas necessidades. O local em que vivemos tem mais a ver com aquilo que ganhamos do que nunca. As pessoas afectadas pela nova economia, cujos rendimentos baixaram e são mais precários, acabam por ir viver em comunidades pobres. As suas escolas são piores; a assistência médica é menor; os seus seguros são mais caros. Mesmo quando juntam o que podem, os pais dos bebés não conseguem ganhar o suficiente para que os seus filhos tenham cuidados diários de boa qualidade. Este processo discriminatório está a tornar-se muito mais eficaz quando as pessoas que são marginalizadas para comunidades degradadas, mais precisam de ajuda.
Eis o processo da discriminação: se tudo o resto for igual, quem entrar numa comunidade, pretende o mais alto retorno sobre o seu investimento – o melhor serviço, o melhor valor, os companheiros mais agradáveis e o maior prestígio que o seu dinheiro puder comprar. Os que já fazem parte da comunidade também querem o melhor retorno sobre cada novo membro, ou seja, pessoas que contribuam tanto ou mais do que eles e que façam o mínimo de exigências ao pólo de recursos comuns.
Quanto maior for o leque de opções e a facilidade de mudar para algo melhor, mais eficaz é o mecanismo de discriminação. As pessoas tentam integrar-se nos grupos que lhes proporcionam os melhores negócios – não só as melhores cidades ou municípios e as melhores comunidades residenciais que podem pagar como também os melhores estabelecimentos de ensino superior, secundário e básico, infantários, lares e centros de dia para idosos, pólos de seguros, parcerias profissionais e empresas. Estes grupos lutam entre si para atrair os membros mais desejáveis, isto é, aqueles que possam contribuir mais e exigir menos. Cada vez com mais eficiência, excluem aqueles membros que são menos valiosos ou mais necessitados.
As comunidades residenciais privadas excluem as famílias grandes que precisam de muitas escolas e serviços sociais e cujos filhos podem ser barulhentos ou cometer pequenos delitos, cobrando preços muito elevados pelas casas e quotas muito altas e limitando bastante o número de quartos de cada fogo. Os municípios mais ricos fazem-no exigindo lotes de terreno com 1 a 2 hectares para cada casa e proibindo as residências multifamiliares.
Os movimentos de cidadãos contra os impostos estaduais e locais têm sido encabeçados por associações de proprietários privados, cujos membros não vêem motivo para prestarem apoio às famílias de outras áreas quando eles próprios têm tudo aquilo de que precisam graças às suas contribuições pessoais. Em 24 de Março de 1999, o Leisure World, uma comunidade de reformados em Orange County, deixou de ser uma comunidade fechada e passou a ser um dos municípios mais recentes da Califórnia, cujos cidadãos têm em média setenta e sete anos de idade. Neste estatuto, pagam menos impostos. Limitam-se a pagar pelas piscinas, campos de ténis, cavalariças e tratamento da relva dentro do perímetro da nova cidade, em vez de gastarem dinheiro em escolas e serviços sociais para as crianças do resto do concelho.
Enquanto a proporção de casais com filhos continua a diminuir e aumenta o número de idosos, aumenta o número de bairros escolares com maiores concentrações de idosos que votam por impostos mais baixos e escolas de má qualidade. Por outro lado, criam-se bairros com serviços especiais para residentes da classe média e empresários dispostos a pagar taxas para melhorar a recolha do lixo, a limpeza das ruas e o policiamento desde que estes serviços sejam executados apenas no seu bairro. As comunidades exclusivas estão a ser muradas. As residências, as escolas, os estabelecimentos e os escritórios estão ligados a redes gigantescas de alta velocidade, permitindo que os professores comuniquem mais facilmente com os pais, as empresas com os seus colaboradores e todas as pessoas com os funcionários da sua autarquia.
Esta tendência está a conduzir os Estados Unidos de novo para a segregação racial. No início dos anos 90, cerca de 10% dos bairros de Chicago ainda podiam considerar-se integrados – as famílias negras representavam 10% a 50% do total dos residentes. Em meados da década, essa percentagem desceu três pontos.
A nível da educação, é mais provável que um aluno do liceu vá às aulas quando a maioria dos seus colegas faz o mesmo. Os estudantes menos aptos recebem mais apoio se estiverem em turmas de bons alunos. Depois de um grupo de famílias urbanas pobres, escolhidas aleatoriamente, ter recebido vouchers que lhes permitiram mudar-se para bairros melhores, o comportamento dos seus filhos melhorou em comparação com os daquelas famílias que queriam os vouchers, mas não os obtiveram.
Os pais mais ambiciosos estão a escolher escolas particulares de grande prestígio ou boas escolas públicas em comunidades suburbanas elegantes onde os outros alunos podem exercer uma influência positiva, os desordeiros são facilmente expulsos e os mais lentos a aprender são discretamente isolados. Ou então escolhem escolas especiais, subsidiadas pelo Estado, que gozem de mais liberdade de admissão ou de expulsão do que as escolas públicas. Este mecanismo explica o surto de Fundações de Pais particulares, na sequência de decisões dos tribunais exigindo que as zonas escolares mais ricas subsidiem as mais pobres. Em vez de pagarem mais impostos, os pais transferem discretamente o seu apoio para estas instituições de beneficência, o que lhes permite manter uma parcela maior do seu dinheiro na sua zona de residência. Cerca de 12% dos mais de 14 000 distritos escolares dos EUA já são subsidiados em parte por estas fundações que pagam tudo, desde um novo auditório a uma estação meteorológica de alta tecnologia e um programa de línguas. As Fundações de Pais são a prova evidente de que os pais tentam reencaminhar o seu dinheiro para os seus filhos e não para as crianças mais necessitadas e cuja educação é mais dispendiosa.
Assim as crianças mais pobres que exigem uma grande dose de atenção dos bons professores estão cada vez mais agrupadas com outras crianças pobres e também muito necessitadas em escolas que não dispõem de muitos recursos. Graças ao sistema de vouchers escolares, as escolas têm mais liberdade de expulsar as crianças que sejam particularmente indisciplinadas. Para onde vão estas crianças? Estão amontoadas no fundo de todo o sistema educativo, em escolas que são essencialmente instituições de custódia. O mecanismo de discriminação completa-se.
Na economia emergente, o êxito depende mais do talento, da ingenuidade, da capacidade que cada pessoa tem de se vender e das pessoas que se conhecem. Em termos individuais, os pais estão a agir racionalmente, mas o que é racional para os indivíduos não o é para a sociedade.
O apoio estatal ao ensino superior já não é tão generoso como era. Esta mudança para o mercado nacional e global do ensino superior gerou uma concorrência mais directa entre faculdades e universidades. Para manterem ou aumentarem a sua reputação, elas tiveram de atrair os jovens mais inteligentes do país e até do mundo. A universidade de Carnegie-Mellon encoraja explicitamente os candidatos mais dotados a recusar as propostas de outras universidades para poder igualá-las ou superá-las. Harvard faz a mesma proposta.
A consequência é que sobram menos recursos para apoiar os estudantes mais necessitados. Isto significa que os alunos mais dotados, bem organizados e motivados estão a juntar-se mais do que nunca nas mesmas universidades de prestígio. Não só os seus talentos e ambições se reforçam mutuamente como a abundância de contactos e de conhecimentos permite que todo o grupo tenha acesso a oportunidades de emprego melhores e o prestígio da marca da universidade aumenta consideravelmente.❐ (continua)
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