quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Principezinho de Saint-Exupéry

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Do livro "O principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry. Editora Caravela.


(diálogo entre o principezinho e a raposa)
« (...)
- O que é que “estar preso” quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que tu andas à procura?
- Ando à procura dos homens – disse o principezinho. - O que é que “estar preso” quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar – disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?
- Não – disse o principezinho. - Ando à procura de amigos. O que é que “estar preso” quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente esqueceu – disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços – disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo ... (...)
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor, ... prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava – respondeu o principezinho – mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer ...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós – disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto ...

O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora – disse a raposa. - Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade!
...................
- Olá, bom dia. Disse o principezinho.
- Olá, bom dia. Disse o vendedor.
Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede.
- Toma-se um por semana e deixa-se de ter necessidade de beber.
- Por que é que andas a vender isso? - perguntou o principezinho.
- Porque é uma grande economia de tempo - respondeu o vendedor. - Os cálculos foram feitos por peritos. Poupam-se cinquenta e três minutos por semana.
- E o que se faz com esses cinquenta e três minutos?
- Faz-se o que se quiser ...
«Eu» pensou o principezinho «eu cá, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, punha-me era a andar muito de mansinho à procura de uma fonte …
.......................
O principezinho sobe, sobe ao cimo da montanha.
As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que não passavam acima dos joelhos.
Servia-se do vulcão apagado como de um palco.
“Do cimo de uma montanha tão alta como esta – pensou ele – com um olhar abarcarei todo o planeta e todos os homens.”
Porém, nada mais viu do que os picos aguçados das rochas.
Bom dia – disse para ver o que aconteceria.
Bom dia … bom dia … bom dia … respondeu o eco.
Tu quem és? - perguntou o principezinho.
Tu quem és? … Tu quem és? … Tu quem és? … respondeu o eco.
Somos amigos; eu estou só. - disse ele.
Eu estou só … eu estou só … eu estou só …. - respondeu o eco.
.......................
Tenho boas razões para pensar que o planeta de onde o principezinho vinha era o asteróide B 612. Este asteróide foi visto ao telescópio uma única vez, em 1909, por um astrónomo turco.
Nessa altura, o cientista apresentou uma grande exposição da sua descoberta a um Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido. As pessoas grandes são assim.
Felizmente que, para a boa reputação do asteróide B 612, um ditador turco se lembrou de impor ao seu povo, mas impor-lhe sob pena de morte, que trajasse à europeia. O astrónomo voltou a fazer a sua demonstração em 1920, mas agora muito bem vestido. E toda a gente a aceitou.


Só vos contei tudo sobre o asteróide B 612 e só vos confiei o seu número por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes gostam de números. Quando vocês lhes falam de um amigo novo, as suas perguntas nunca vão ao essencial. Nunca vos perguntam: «Como é a voz dele? De que brincadeiras é que ele gosta mais? Ele faz colecção de borboletas?» Mas perguntam: «Que idade é que ele tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele pesa? Quanto ganha o pai dele?» Só assim é que eles pensam ficar a conhecê-lo. Se vocês disserem às pessoas grandes: «Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombas no telhado ...», as pessoas grandes não a conseguem imaginar. É preciso dizer-lhes: «Hoje vi uma casa que custou vinte mil contos.» Então, já são capazes de exclamar: «Mas que linda casa!»
Assim, se lhes disserem: «A prova de que o principezinho existiu é que ele era encantador; é que ele se ria e queria uma ovelha.» Querer uma ovelha é a prova de que existe, as pessoas grandes encolhem os ombros e chamam-vos crianças! Mas se lhes disserem: «O planeta donde ele vinha era o asteróide B 612», as pessoas grandes ficam logo convencidas e não se põem a fazer mais perguntas. As pessoas grandes são assim. Não vale a pena zangarmo-nos com elas. As crianças têm de ser muito indulgentes para com as pessoas grandes.
Mas nós, nós que entendemos a vida, claro que nos estamos bem nas tintas para os números! Eu gostava era de ter começado esta estória como um conto de fadas. Assim:
«Era uma vez um principezinho que vivia num planeta um pouco maior do que ele e precisava de um amigo ...» Para quem entende a vida, era de certeza um começo bem mais verosímil.
Porque eu não gostaria que este livro fosse lido levianamente.❐
mailto:eu.maria.figueiras@gmail.com

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